20111117

Yoga-Nidra


Segundo os Tantras, "A tranquilidade e a paz vêm de dentro para fora." Todos deveriam gozar da possibilidade de penetrar até o subconsciente de maneira a reconhecer as bases estruturais da sua personalidade, podendo assim resolver seus conflitos e tornar-se uma pessoa mais equilibrada (saudável).

  1.  Tensão física ou muscular gerada pelo sentimento de culpa por não vivenciar a plenitude do ser. Está ligado ao Brahma Granthi do Muladhara Chakra.
  2. Tensão emocional gerada pelo sentimento de aban-dono por não se sentir amado, necessário. Está ligada ao Vishnu Granthi do Anahata Chakra. 
  3.  Tensão mental ou psíquica gerada pelo sentimento de Inferioridade por não saber, verdadeiramente, quem é. Está ligada ao Shiva Granthi do Ajna Chakra.
 Os três tipos de tensão originam doenças, inibições, complexos, ansiedades e toda uma gama de sofrimentos. Estes sofrimentos, normalmente, estão ligados aos três complexos principais, que por sua vez estão ligados aos três Granthis, três principais dificuldades da passagem da energia sutil (Prāna) pela Susumna Nadi.
  
Desta forma, ressalta-se a necessidade de um processo de conscientização das tensões existentes e seu consequente relaxamento, ou vice-versa.
  
Os psicólogos dizem: "O completo relaxamento físico nos prepara para investigações mais profundas no campo do inconsciente."
  
Yoga-Nidra é conhecido como método de relaxa mas precisa-se dar ênfase ao fato de que ele objetiva o equilíbrio físico, mental e espiritual (essa divisão é meramente didática, não existindo na realidade) através do relaxamento profundo consciente.
  
A prática é baseada num rodízio de conscientização que a mente focaliza as diferentes partes do corpo, Pranayama, Chidakasa, Dharana e visualização interior.
  
Considerando que Yoga é um processo de comunhão, a integração dos conteúdos conscientes e inconscientes determina uma personalidade mais equilibrada e plenamente consciente.
  
Dessa forma, o relaxamento consciente alcançado em Yoga-Nidra possibilita observar (como espectador) uma liberação de imagens subconscientes carregadas de emoções e conteúdos que foram reprimidos, Sanskaras.
  
Esses conteúdos reprimidos são a causa de nossas tensões profundas e da constante inquietude da mente, e ficam interferindo subliminarmente em nossos comportamentos na vida diária. Condicionam nossos pensamentos conscientes e experiências, e nos compelem a reagir às situações de forma razoavelmente previsível.
  
Assim que se atinge o relaxamento profundo consciente, esses conteúdos passam a emergir e torna-se importante manter-se como observador, sem se envolver.
  
"A consciência é o que quebra os laços do envolvimento pessoal, sendo o meio de se libertar das impressões ou Samskaras.

Etapas do Processo Relaxamento
Pratyahara (Abstração dos Sentidos)
Aqui pretendemos desenvolver a capacidade da nossa de ignorar a abundância dos estímulos externos, interiorizando-se.
  
A mente, porém, comporta-se como uma criança rebelde. Faz exatamente o contrário do que queremos que faça. Assim, se nós a obrigarmos a pensar em fatos do mundo exterior enquanto os olhos estão fechados, a mente, aos poucos, tendo a perder o interesse neles e se fecha automaticamente, que é o que desejamos em Yoga-Nidra.
  
Deliberadamente fixamos a atenção em sons externos e saltamos de som para som, conservando a atitude de espectador. Depois de certo tempo, a mente perde o interesse nesses sons e se fecha para eles.
  
Afastamos os mais importantes meios de comunicação da nossa mente com o mundo exterior, pelo simples falo fecharmos os olhos e praticar Antar Mouna. Isso deixa o tato como fonte mais forte de estímulo do mundo exterior, paladar e o olfato são relativamente neutros.
As sensações do tato são quase anuladas se adotarmos a posição de Shavasana, em que os braços e pernas mantém-se afastados do corpo e as palmas das mãos voltadas para cima de maneira a evitar a estimulação táctil.
  
Rodízio de Conscientização
Tendo reduzido a interferência dos estímulos externos,a atenção tende a concentrar-se no corpo. Portanto, o passo seguinte é afastar a mente do corpo. Para atingir esse objetivo há uma conscientização deliberada de cada parte do corpo físico, em um rodízio que se repete um certo número de vezes.
  
Após algum tempo, percebemos que a mente demonstra uma tendência a interiorizar-se.
  
Além disso, esse rodízio vai provocando um acentuado relaxamento, que serve para diminuir de maneira considerável a penetração no cérebro dos estímulos físicos.
  
De modo geral, a parte seguinte do exercício é a consciência da presença da respiração, quando se pode introduzir alguma visualização, como por exemplo tentar ver nosso próprio corpo como se estivessemos fora dele.
  
A consciência ou a conscientização da respiração traz na maior introversão. Não se deve alterar o ritmo respiratório, apenas observá-lo.
  
O exercício continua na profundidade das emoções ou sensações psicossomáticas. Faz-se um rodízio de concientização de sensações. Primeiro, sensações de aspectos físicos, como leveza, calor, etc. Depois, passamos para o plano mental: dor, prazer, e, se for desejável, ira, medo, ciúme e amor.
  
Visualização
Neste momento a mente já está inteiramente introvertida, embora ainda haja consciência da voz do instrutor.
Esta é a fase em que vários pensamentos e imagens surgem do consciente e do subconsciente, interferindo no processo para a concentração. Em vez de bloquear esses pensamentos e imagens, nós nos utilizamos deles, fazendo um rodízio de conscientização por determinadas imagens e pensamentos, até que eles percam seu poder dispersivo. Usam-se outras imagens e símbolos que possam perturbar as camadas mais profundas da mente e trazer à tona seu conteúdo. Uma vez iniciado esse processo de purificação, a tendência é que ele prossiga espontaneamente. A indicação de que ele realmente continua é quando uma sucessão de pensamentos imagens emergem durante a prática de conscientização do espaço interior (Chidakash).
  
Nós devemos continuar como meros observadores o sucessão de imagens deve ser orientada rápida e ritmadamente.
  
Dharana
A sucessão de imagens tem dupla finalidade: desenvolver poderes de visualização e evitar a dispersão do consciente e do subconsciente, empregando o poder de associação. Nossa mente, então, concentra-se cada vez mais e nos torna receptivos e prontos para a prática de Dharana, quando o consciente focaliza determinado objeto por certo tempo.
  
Normalmente usamos a imagem de um ovo dourado, que é um símbolo psíquico muito poderoso e que facilita particularmente a concentração.
Meditação pura é a experiência da conscientização desse objeto dentro do inconsciente. Então, a fronteira entre consciente e inconsciente se desfaz e as imagens psíquicas desaparecem.
  
Resolução ou Propósito
A Resolução é uma ordem do consciente para o subconsciente. Depois o poder do subconsciente forçará a ordem a retornar ao consciente, e ela se manifestará em nossas ações e comportamentos.
Nossos pensamentos e ações de agora são influenciados por experiências passadas. Nossas experiências presentes determinarão nosso comportamento futuro. O ciclo de ação e reação chama-se Karma.
  
Não somos vítimas indefesas do destino; cada um de nós dentro de si o poder de moldar sua estrutura mental. A semente da mudança é o Propósito que formulamos em Yoga-Nidra.
  
É muito mais construtivo e aconselhável empregar a Resolução ou Propósito para um fim positivo que influencie uma vida, que inclua um desejo verdadeiro de mudar a personalidade. Ao obtermos um resultado assim, ganhamos automaticamente a força necessária para vencer hábitos e vícios indesejáveis.
  
Precisamos SENTIR o nosso Propósito, pois o inconsciente reconhece sugestões que trazem em si a força do impulso emocional e reage sob a influência delas.

Aspectos Psicológicos
No Ocidente, psicólogos descrevem a mente como tendo duas divisões principais: consciente e inconsciente.
  
O consciente predomina durante as horas em que estamos acordados. Sua característica básica é a noção do EU (Ego) e tem por função a resolução de problemas e o raciocínio (analisar, comparar e concluir).
  
Os seguidores de Freud afirmam que o inconsciente é o depósito de todas as experiências passadas não compreendidas, geralmente dolorosas. Estas experiências reprimidas ainda vivem e são a origem de nossas fobias e obsessões. Também no inconsciente localizam-se nossos instintos e desejos, permanentemente em luta para emergir no consciente, competindo pela própria expressão e satisfação.
  
Entre o consciente e o inconsciente existe um limiar de tensão que atua como Censor. Isto é, filtra que informações devem aflorar na consciência.
  
Esse Censor é necessário para nossa concentração no trabalho que executamos.
O Censor assimila ao longo da vida as informações (valores, conceitos, preconceitos, noções de certo e errado etc.), e de acordo com nossos complexos, inibições, simpatias e antipatias, ele alimenta o nosso consciente com as informações que se mostram mais "adequadas", determinando nossas ações e reações.
Se temos medo de algo, a informação sensorial será enviada ao consciente de acordo com o padrão de comportamento aprendido e "adequado", determinando a nossa resposta. Por exemplo: Um homem que aprendeu que "Homem não chora e não tem medo", diante de algo que o apavora, fingirá não ter sido atingido pelo estímulo. Enquanto isso, o conteúdo emocional correspondente à intensidade do estímulo (medo, insegurança, necessidade de gritar, chorar, fugir etc.), que é "inadequado" no padrão de comportamento aprendido, será bloqueado.
Os preconceitos do Censor nos impedem de ver o mundo claramente. Mas não impedem que o inconsciente esteja sempre alerta, enviando informações para o consciente, mesmo durante o sono.
  
A entrada nas áreas do inconsciente, onde estão nossa intuição e criatividade, nos é proibida, assim como o ingresso no âmbito geral do Inconsciente Coletivo (registro de experiências herdadas de nossa raça e de nossa cultura).
  
É claro que a Censura é necessária para que funcionemos bem, mas uma Censura muito restritiva pode separar-nos de partes positivas e esclarecidas da nossa mente, inibindo a capacidade de análise e questionamento.
  
Yoga-Nidra nos auxilia a harmonizar o consciente e o inconsciente e nos conduz a um estado em que a Censura não é necessária, pelo menos durante certo tempo.


'A Psicologia do Tantra', de Paulo Murilo Rosas, páginas 211 a 219.

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