20111130

4 Temas de Bertazzo - I



O Quadro Contemporâneo de Fragmentação

'É fácil compreender a procura pela musculação em nossos dias, a grande afluência à academia de "malhação". Na verdade, as pessoas que procuram a "malhação" talvez o façam por serem carentes de sensações de estrutura; necessitam forjar uma presença, uma sensação de unidade. Como censurá-las? A sensação de desintegração que enfrentam no quadro de fragmentação do mundo moderno é desesperadora e elas necessitam, com razão, de sensações estruturantes. Infelizmente, esses métodos criam também densidades contrárias ao movimento.

Se a fragmentação é o tema de nossa época — conhecemos as partículas subatômicas, divisíveis ao infinito —, é preciso, por outro lado, somar, fundir e encarnar — assumir um corpo — para compensar essa tendência. Se alta velocidade e divisão extrema — os confrontos de etnias, nações, moralidades etc. — formam o panorama externo, é preciso fortalecer a unidade em nosso interior para suportar tais condições.
Como observa Mme. Struyf, se os grandes símbolos de nossa época são os carros fantásticos, os aviões supersônicos, e não mais as arquiteturas estáticas — a catedral, o palácio —, não esqueçamos que, da mesma forma que a máquina superveloz possui estrutura complexa, extremamente precisa e organizada para permitir o deslizamento sobre a água ou pelo ar, o homem faz uso de uma estrutura refinada para ficar em pé. Se o barco tem o arcabouço que o sustenta à flor da água, nós possuímos nosso esqueleto, que nos sustenta em pé e nos permite caminhar.

É nesse sentido que Mme. Struyf insiste que a estruturação começa em nossos ossos, e não em nossos músculos: "Sem eles, seríamos um patético saco de pele escorrendo pelo chão".
O ser humano tem à sua disposição uma máquina de movimento de design extremamente sofisticado. Entretanto, na maior parte do tempo negligencia essa dádiva. Isso tem provocado, e provocará ainda, inúmeras disfunções: se continuarmos pautando nossa evolução sem qualquer atenção ou percepção desses fundamentos, com certeza mais adiante seremos obrigados a voltar sobre nossos passos para reestimular nossas bases sensórias. '

Ivaldo Bertazzo, 'O Cidadão Corpo', página 36

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