20110318

Automatismos

Hatha Yoga é uma prática física e é uma prática psíquica.

É uma 'coisa quântica', semelhante à maneira como a matéria é tratada nessa modalidade da Física: onda e partícula.

A maior diferença entre a prática de Hatha Yoga e todas as demais práticas físicas é que nenhuma delas provoca a alteração dos automatismos.

A maior diferença entre o Hatha Yoga e as práticas psíquicas é que se torna desnecessário o entendimento objetivo ou racional (e cartesiano) do fato/momento/situação/processo que levou o indivíduo a construir um automatismo para desmontá-lo e re-estruturar-se.

A prática regular do Hatha Yoga cura (a fisiologia d)o corpo, e o corpo muda (a psicologia d)a mente.


Mas, o que é, como se forma um automatismo?

Basicamente, um automatismo decorre da sensação de recompensa que uma atitude neurótica adquire fora de seu contexto original. Automatismos se escondem nos nossos hábitos (que temos coragem, ou não, de chamar de vícios).

Um automatismo se forma quando uma atitude neurótica 'serve' para obter algum tipo de recompensa ou satisfação em uma situação  independente (que vamos chamar de 'situação 2') daquele acontecimento em que a atitude corporal se originou e, por consequencia, passa a ser utilizada como forma de obter recompensa ou satisfação em acontecimentos semelhantes à situação '2'. E isso tudo acontece sem que o indivíduo tenha consciência, pois geralmente os seres humanos não sabem dizer como se movimentam, nem o que se passa com sua musculatura, suas articulações em cada atitude que assumem, mas sabem se 'lembrar' e se colocar fisicamente parecidos em  posturas/posições/atitudes que lhes causam 'satisfação' ou que estimulem o mecanismo de recompensa.

Quer mais?
Leia o texto abaixo, do Gaiarsa:


Estávamos procurando mostrar que as atitudes nunca são reprimidas, e que este processo psicofisiológico alcança apenas as ações ou as palavras. Esta afirmação é simplificada. Ao se reprimir uma ação, modifica-se a atitude inicial. Se exigirmos de uma criança que pare de chorar, ela consegue nos obedecer enrijecendo estes ou aqueles grupos musculares. Cessa o choro, mas a atitude repressora também é significativa ou expressiva.

A inibição de uma ação compõe uma atitude apta a servir de base a uma nova ação também adequada — mas a uma outra situação. Por exemplo, a mesma criança que proibimos de chorar. Temendo mal maior, a criança consegue não chorar à custa daquela sabedoria muscular da qual já tanto falamos; seus olhos se apertam, sua garganta se aperta, seus ombros se apertam. Ao cabo do processo, ela está com a atitude do ressentido, dura de corpo e de espírito. Pouco depois, ela sai à rua e reúne-se a seu bando. Ninguém sabe por quê, neste dia ela se faz líder do grupo e vencedora em uma batalha simulada. A atitude dura, gerada pela inibição do choro, adquiriu função em situação diferente da original. A isso o psicanalista chama "vantagem secundária da neurose". Notemos que a vantagem é secundária em relação ao tempo, mas não quanto à importância. A liderança pode se fazer e ser uma grande satisfação. Mas aparece claro no exemplo o quanto esta liderança não era o que a criança pretendia originalmente. Além do mais, a atitude de líder, formada em certa medida acidental¬mente, pôs a criança em outro mundo - longe do lugar, do tempo e da pessoa que a repreendeu. Saindo à rua quase em transe sonambúlico, a criança foi levada — provavelmente pela atitude "sem objeto" que a animava - para o grupo, em busca de um apoio ou de um consolo — quem sabe. Uma vez no grupo, a tenacidade ou a força da contenção que nela se exercia, começou a atuar fora dela e a organizar o grupo. Creio que a criança só "acordou" — em nosso exemplo — quando se sentiu senhora da atividade do conjunto. É muito pouco provável que a criança - ou mesmo um adulto em seu lugar - percebesse a relação entre o choro contido e a liderança subsequente. Tudo o que é importante nesta sequência de fatos está nos movimentos e nas atitudes. Deixe alguém de considerar o plano motor, e toda explicação subsequente da relação entre a mágoa contida e a liderança se torna um romance confuso ou uma teoria esotérica.

José Angelo Gaiarsa, em 'A Estátua e a Bailarina', pag 144.

Nenhum comentário:

Postar um comentário