20100731

Annie Leibovitz - Christo, New York City -1981

" A propriocepção transforma a mecânica do corpo em sensação e neste ato torna as forças musculares, forças da consciência - ou do inconsciente" (Gaiarsa, A Estátua e a Bailarina, pag 58)

"Não somos achatados pela força da gravidade, mas pelas ações musuclares que buscam lutar contra ela, quando tais ações se tornam excessivas." (Francçoise Mézières, em Aspectos Biomecânicos: Cadeias Muscuclares e Articulares - Método G.D.S.(Noções Básicas), de Philippe Campignion, pag 21)

Respira

Quem pensa não presta atenção,
quem pensa não respira...



'...o que é estranho é que as pessoas não percebam isso: elas sentem ansiedade, sentem o medo.
Vão no(sic) médico, (ele) diz: não, ansiedade, toma um remédinho, fica tudo bom...
A inconsciência médica da situação das pessoas no mundo é espantosa: o organismo é assim, ele desfunciona assim, o remédio é assim. O cara não está no mundo, não tem família, não tem emoções, não tem nada. Dá um remedinho que ele fica bom, tira ele do mundo. '( Gaiarsa)

A maioria de nós se torna cada vez mais desligada dos processos vívidos, aqueles que mantém nossa vitalidade e nosso contentamento. A inconsciência não é apenas médica, é da grande maioria das pessoas. Quem sabe que a pressão alta pode ter origem mecânica, devido à tensão muscular que o excesso de força dos gestos e o estresse podem gerar? Assim como a hipertensão, vários sintomas de doenças crônicas podem ter origem não metabólica e essa origem não é sequer mencionada pelos agentes de saúde.

Precisamos compreender que nossa vida é um tecido rendado, que muitos fatores estão interligados e interferem na nossa atitude individual se não temos o propósito de nos conhecermos melhor e nos auto-educarmos continuamente.

O Hatha Yoga é uma oportunidade de se conhecer, de se re-conhecer, de estabelecer um projeto de auto-educação para curar nosso corpo, coordenar nossas emoções e pensamentos, iluminar nossos sentimentos.

20100729

Experimento

Pessoas,
parece que encontrei um jeito simples de subir e baixar arquivos de áudio.
Cliquem no link abaixo,
Arquivo de áudio
para experimentar.

20100725

Yoga = Arte


Yoga é uma prática para experimentar a veracidade dos limites.
Romper as barreiras.

Uma das funções da Arte é romper os limites.

Tempos prozaicos - Tristeza e depressão


Vivemos tempos prozaicos?

Somos incentivados constantemente a ultrapassar nossos limites de muitas formas hipnóticas e a ignorar e silenciar os sinais dos excessos que o corpo emite: coma de mais e depois tome um antiácido que tudo se resolve; trabalhou muito tempo sentado, carregou muito peso, está com muita raiva contida e contraíndo os músculos, tome um analgésico que passa... Exagerou no exercício físico? Toma um relaxante muscular ou coloca um emplastro...

Vamos assim descalibrando a percepção da consciência corporal, da propriocepção e nos entregando cada vez mais aos 'mágicos' comprimidos anestésicos enquanto perdemos os limites naturais de parar de comer, parar de dormir, parar de fazer. Vamos perdendo o contato com o que é do Bem, com o que faz sentido e com o que pode volitivamente ser mudado.

Com o tempo, perdemos a confiança e passamos a duvidar do nosso corpo e já não sabemos mais ler os sinais: tristeza é algo podemos sentir quando 'perdemos' algo ou alguém, quando nos sentimos frustrados. Tristeza vem, tem um ciclo de tempo para permanecer, e vai embora. Esse ciclo de tempo varia conforme a causa da tristeza: perder uma oportunidade ou perder um ente querido ou ser destratado; e conforme o temperamento e a compreensão do fato pela pessoa envolvida na perda. Tristeza, ao contrário do que canta a música, tem fim. Quando a sensação de tristeza permanece por mais tempo que o necessário, e a pessoa vai manifestando falta de cuidado consigo mesma (não come mais, para de tomar banho, não dorme ou dorme o tempo todo), passa a ser considerada depressão.

Há fatores que incitam a sensação de tristeza: falta de movimento, falta de luz solar, frio, ingestão de produtos refinados, ingestão de açúcar branco, hormônios que circulam no organismo feminino após a ovulação, se não há gestação.


Podemos manter a tristeza no nível funcional, quando é necessária. A tristeza é necessária pois construímos/avaliamos/movemos nossos limites e aperfeiçoamos nossa personalidade lidando com nossas tristezas, com nossas frustrações.

Podemos dar uma forcinha para a natureza no sentido de recuperarmos a alegria, nos alimentando melhor, praticando exercícios, cultivando bons pensamentos. Também podemos cultivar o contentamento, que é a capacidade de sabermos quem somos independente do que está contecendo ao nosso redor.
+ Guru Purnima

20100719

Emprestado


Segundo Nina Robinson,o Movimento Genuíno aplica os seguintes princípios:

1. Fechar os olhos e escutar o que está dentro de si e deixar que se expresse em movimento ou pausa, ou no que for necessário.

2. Dar umas férias para a mente e experienciar o que está acontecendo consigo a cada instante. Deixar de usar a mente como controle e comando, e entrar em contato com o corpo, os sentimentos, as imagens. A cabeça é tão física quanto os pés e abdome, e não consiste apenas de idéias abstratas que nos tiram da sensação.

3. Prestar atenção na respiração e no corpo.

4. Seguir os impulsos e sentimentos. Optar livremente por seguir um impulso ou esperar o próximo, mas estar conectado com eles,consciente deles.

9. Despreocupar-se com o ser observado, ser criticado, fazer para ser elogiado etc.

10. Ao final da improvisação (leia-se aqui Relaxamento), o professor comenta: “Conclua sua experiência vagarosamente”. São necessários alguns minutos, dependendo de cada pessoa, para concluir e abrir os olhos aos poucos.
 
12. O observador é o olho do realizador, mas não tem que lembrar tudo que ele fez, e sim estar presente, respondendo ao realizador.

13. Os observadores formam um espaço seguro para que os realizadores se expressem.
 
17. O professor concede um espaço seguro para toda a atividade, cuidando para que a interação das duplas (leia-se aqui pessoas, praticantes) e entre estas estimule a confiança– em si mesmo e no colega – e a criatividade.
 
Grifos são meus mesmo.
Emprestado da Dança Contemporânea, contemplada pelo Sistema Laban Bartenieff.

20100718

Friorento(a)<=>Estressado(a)


Existem pessoas que sentem mais o frio ou o vento que outras: isso pode ser indicado pelo biotipo que na medicina Ayurvédica (medicina tradicional da Índia), onde pessoas há o predomínio do biotipo Vata ressentem o vento+frio e pessoas dominadas por Kapha, o frio+molhado; ou, o excesso de sensibilidade ao frio pode ser uma forte indicação de um nível de alto de estresse no organismo da pessoa.

Quando somos dominados pelo estresse, acabamos sentindo mais frio que o natural para o nosso biotipo.
O domínio claro pelo estresse pode acontecer pelas situações que fazem parte de nosso cotidiano e às quais estamos expostos: trânsito, excesso de trabalho, ambiente conflituoso ou violento. Porém, há uma forma mais sutil de nos expormos ao estresse: quando deixamos por fazer, quando inibimos uma ação, quando sempre nos retraímos, quando nunca expressamos a cólera, quando não damos vazão à todas as nossas emoções.
Essa inibição pode ser psicosomática, pode fazer parte da nossa estrutura psicofísica cristalizada que usa insistentemente a via muscular da cadeia muscular anteriolateral (que gera desequilíbrio/doença porque é cristalizada, e não porque é a cadeia anteriorlateral, AL, tem características de retração), e se apresenta fisicamente com uma postura onde os membros superiores e inferiores se enrolam pela frente do corpo em relação ao eixo da coluna, como o gesto que costumamos fazer quando sentimos frio: a intenção de nos dar um auto-abraço, como na figura abaixo, para aquecer o corpo e o coração.

É interessante notar que a manutenção desse gesto postural, ou da condição de estresse provoca as mesmas respostas fisiológicas:

* há uma predominância da retração inclusive nas membranas celulares, que dificulta a troca entre o meio externo e o interior da célula (é bom lembrar que o meio externo das células é uma matriz nutricional que fica mais fluída quando nos movemos regularmente, e portanto, deixa sair o lixo da célula que deixa entrar o alimento, exatamente nessa ordem: antes do lixo sair, o alimento não entra. Se não nos movemos, ou nos movemos pouco, se passamos os dias contraídos 'por causa do frio', a matriz vira geleca, vira gesso e... a troca vai para o bebeléu, e vamos morrendo aos poucos e aos pedaços: ganhamos um corpo moribundo);

*aceleração cardíaca e pulmonar de origem fisiológica, que causa uma hipertensão mecânica, mas que muitas vezes é diagnosticada como sendo de origem metabólica. (E a pessoa fica tomando remédio à toa, quando é apenas necessário aprender a relaxar.)

* constrição da vesícula biliar, diminuição da mobilidade do estômago e inibição de suas secreções, o que dificulta a digestão. Há constipação intestinal do tipo espasmódica.

*reforço da vasoconstrição periférica pela contração da musculatura, dificultando a circulação, que aumenta a sensação de frio e dificulta a respiração celular. A musculatura também pode comprimir nervos provocando parestesias e formigamento das extremidades, particularmente nas mãos, que podem evoluir para Síndrome do Túnel do Carpo ou até para a Síndrome de Reynaud.

Então, aprenda a se mexer com consciência, para que, através do movimento que educa o corpo experimentado ou Soma* (em contraste com o corpo objetivado) você possa assumir a responsabilidade por trazer de volta o calor da Vida para o seu corpo. E a Alegria/Contentamento para sua vida.


Soma* = o corpo experimentado que engloba “uma diversidade de conhecimentos onde os domínios sensorial, cognitivo, motor, afetivo e espiritual se misturam com ênfases diferentes” (FORTIN, Sylvie. “Educação Somática: Novo Ingrediente da Formação Prática em Dança”. In: Cadernos do GIPE-CIT, Nº2. Estudos do Corpo. Salvador: UFBA. 1999 (Tradução Marcia Strazacappa). Pag 40).

Fundamentos Bartenieff



A importância da obra de Bartenieff pode ser vista já pelo título dos exercícios que criou – “Fundamentos” -, e a estrutura que os suporta – “Princípios de Movimento”. A partir daquele trabalho com pacientes de poliomielite, Bartenieff desenvolveu uma série de exercícios - que podemos classificar em Fundamentos Bartenieff, preparatórios e variações -,(¹) que constituem a base do movimento humano saudável. Este é compreendido não como um modelo anatômico e fixo de perfeição como citado anteriormente, mas traçado individualmente a partir de Princípios de Movimento em movimento, em relações dinâmicas no corpo de cada pessoa como um todo e deste com o espaço. Partimos do princípio que tudo está em movimento, portanto não nosbaseamos em modelos fixos a serem seguidos ou atingidos como um ideal. Em outras palavras: “mudança é fundamental”, “relação/conexão é fundamental”, “padronizar conexões corporais é fundamental” (Hackney 1998, 12-3).

Movimento humano saudável aqui significa realizado a partir da respiração completa, desde o abdomen e do Suporte Muscular Interno (ativando a musculatura profunda como o IlioPsoas e o Grande Dorsal, e o assoalho pélvico, liberando a musculatura superficial para expressividade) em Correntes de Movimento que conectam as partes do corpo em suas diferentes Organizações Corporais (ou Padrões Neurológicos Básicos) a partir do centro em um todo funcional e expressivo, Tema Função/Expressão). Aqui chegamos àquele impulso do movimento a partir do relaxamento e da respiração, não apenas a partir da ativação do Centro de Peso, como na dança moderna. A estrutura interna é dada pela musculatura profunda e também por Conexões Ósseas, linhas imaginárias entre Marcos Ósseos que ligam pontos estratégicos do corpo, como Cabeça-Cauda (cóccix) e irradiam para o Espaço com Intençao Espacial.

O categoria Forma é também fundamental, uma vez que diz respeito ao volume do corpo, e portanto ao Espaço Interno. Por exemplo, a percepção do volume do corpo como preenchido por líquidos (sangue, linfa, líquido céfalo-raquidiano, conjuntivo, etc.) e vísceras, além dos diversos sistemas (digestivo, endócrino, respiratório, etc.), concede fluidez àquela relação Corpo-Espaço a partir das Conexões Ósseas. Este trabalho com líquidos e fluidos corporais é uma das vertentes desenvolvidas por Bonnie Bainbridge Cohen (1993).

O interessante é observar que o trabalho de Bartenieff, criado a partir de corpos de cadeirantes, é hoje usado no treinamento de dançarinos e atores contemporâneos, em uma abordagem somática. Na dança-teatro, não há a separação entre um modelo de corpo e os excluídos deste ideal. Pelo contrário, valoriza-se o diferente, e busca-se romper com modelos de corpos (sempre sendo refeitos a cada geração e momento histórico) buscando o desafio e o diferente em cada um de nós. Partimos do princípio que todos os corpos têm restrições de movimento, preferências aprendidas ao longo do processo de socialização e que associamos a nossa maneira de ser e de se comunicar no/com o mundo, mas que por isso mesmo também limitam nossa possibilidade de expressão. O objetivo de Laban em seu Domínio do Movimento (1ª edição inglesa 1950, 2ª ed. brasileira 1978) é justamente expandir nossas possibilidades expressivas, para que possamos nos relacionar da maneira mais integrada possível. O que queremos dizer com “integrada”?

Como no tango, nenhuma parte do nosso corpo funciona sozinha ou separadamente. Trabalhamos sempre a partir de relações, ângulos, Correntes de Movimento, Conexões Ósseas, o Espaço Interno irradiando para e vindo do espaço dinâmico ao redor, em Intenção Espacial, etc. Nada existe completamente estático e isolado. Como nos esclarece Peggy Hackney (1998, 16), discípula de Bartenieff, podemos transformar nosso contexto através de ações supostamente simples, mas Fundamentais:

1. Enfocando o trabalho de conexão entre partes do corpo ao invés de enfatizando segurar uma parte e mover as outras contra ela (como é frequentemente feito em exercícios de fisioterapia tradicionais).

2. Reconhecendo as partes do corpo (self) como separadas mas vivas e interconectadas. Se uma parte muda, as outras têm que escutar e encontrar sua relação; ou todas as outras partes precisam escolher a participação desejada.

3. Ensinando movimento como uma experiência relacional – relacionando dentro do próprio indivíduo e com os outros e com o espaço; não simplesmente trabalhando para uma maior amplitude de movimento das juntas ou exatidão em pegar sequências de movimento como solista isolado ou um super star.

Assim, todos os corpos podem se beneficiar da chamada Educação Somática, tanto em termos terapêuticos quanto criativos – processos muito entrelaçados em LMA. Segundo Hackney (1998, 17), fazemos conexões em nossos corpos através de padrões ou planos desenvolvidos por nosso sistema neuromuscular. Estes Padrões Neurológicos Básicos (Cohen 1993), desenvolvidos ao longo do primeiro ano de vida, seguem uma ordem não linear, mas de sobreposição e espiral, às vezes retornando ao estágio prévio para avançar. Hackney denomina-os Padrões Fundamentais de Organização Corporal Total, a saber: Respiração Celular, Irradiação Central ou Centro-Periferia (como uma estrela-do-mar ou um polvo), Espinhal ou Cabeça-Cauda (como uma serpente), Homólogo ou Parte de Cima e Parte de Baixo (como um coelho), Homolateral ou Metade do Corpo (como uma lagartixa), Contralateral ou Lados Cruzados (como um cavalo).(²)

Reviver esses estágios na vida adulta fortifica conexões frágeis na infância, ativando e disponibilizando cada função cognitiva correspondente e favorecendo a integração, isto é, “o uso oportuno de acordo com o contexto” (Hackney, 42). Este trabalho denomina-se de “repadronização” (repatterning). Através da reorganização segundo Princípios de Movimento e Padrões de Desenvolvimento (ontogenético e filogenético),³ transformamos e expandimos padrões cristalizados de movimento. Verificamos, então, a existência de dois tipos de padrões: aqueles de defesa, e aqueles de aprendizagem. Nosso interesse é o de facilitar e estimular o segundo tipo através da mobilização e expansão do primeiro.

Aqui reside outro ponto importante: o de valorizar nossas “fraquezas” e preferências, ou seja, nossas “limitações” como ponto de partida para a transformação. Ao invés de buscar um modelo ideal através da recusa do que somos, forçando nossos corpos a mais uma vez adaptarem-se a uma forma imposta e estranha, entendemos que todo ser humano possui condições de função e expressão em movimento, e portanto cabe a nós expandir nossas possibilidades, desafiá-las, encontrando o estranho em nós mesmos. “Estranho” neste sentido significa desconhecido e diferente do padrão que queremos modificar, ao invés de seguir. Começamos sempre com o que somos hoje, e ao explorarmos nossas possibilidades, re-descobrimos outros padrões, desta vez de nossa memória corporal, re-definindo nossa condição de humanos, entre céu e terra, entre animal e espiritual.

Notas:
¹ Vide a descrição detalhada dos Princípios Corporais e dos Fundamentos Bartenieff , preparatórios e variações, em Ciane Fernandes, O Corpo em Movimento: O Sistema Laban/Bartenieff na Formação e Pesquisa em Artes Cênicas (São Paulo: Annablume, 2002): 39-95.
² Vide a descrição detalhada dos Padrões Neurológicos Básicos, em Ciane Fernandes, O Corpo em Movimento: O Sistema Laban/Bartenieff na Formação e Pesquisa em Artes Cênicas (São Paulo: Annablume, 2002): 43-50. 

³ Dos seres humanos e dos animais, revividas pelo embrião humano e pela criança nos primeiros anos de vida.
Fonte:

Promoção: Departamento de Difusão Cultural - PROREXT-UFRGS
Pós Graduação em Filosofia - IFCH – UFRGS
http://www.malestarnacultura.ufrgs.br/
A estrutura microscópica dos ossos talvez seja
nosso conteúdo mais sólido
e é todo cheio de falhas
dá até medo
na verdade
os líquidos é que sustentam
a terra planeta de corpos ossudos
irrigação pelos jardins humanos
florestas úmidas também escuras
tanto coqueiro relaxado
progresso naturalizado
um dia vou fluir desse jeito
sem nenhuma tensão cervical
longa eu já sou
mas estou muito capilar apertada
para tão cedo
devia era estar descabelada
casual pós-amada
pareço seca de magra
mas sou somos somamos
muita água



Ciane Fernandes é performer, coreógrafa, e professora do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, Ph.D. em Artes & Humanidades para Intérpretes das Artes Cênicas pela New York University, Analista de Movimento pelo Laban/Bartenieff Institute of Movement Studies (New York), de onde é pesquisadora associada, além de Enfermeira e Arte-educadora pela Universidade de Brasília.



Fundamentos Bartenieff dialogam diretamente com as nove (9) habilidades que cultivamos para a prática (completa) do Hatha Yoga. A compreensão da análise do movimento que o conhecimento do Sistema Laban Bartenieff proporciona ajuda a identificar os padrões de movimento cristalizados de defesa e de aprendizado dos praticantes e permite a experiência de reestruturar os padrões de defesa (a princípio)através da prática de āsanas, ao mesmo tempo em que enriquece e estimula a variedade de padrões de aprendizado.

20100713

Blá, Blá, blá

Tem coisa mais gostosa do que, em estado de relaxamento alerta, não distinguir nenhuma palavra dita durante a condução do relaxamento do final da aula? Uma 'coisa' meio assim, gato da propaganda do Wiskas sachê...;-)



Ao contrário da concentração do início da aula, que deve ter toda a a nossa atenção objetiva e toda a nossa participação em despertar e refinar o caminho das sensações das partes do corpo em direção ao cérebro e do cérebro em direção às partes do corpo, a não identificação das palavras do roteiro de relaxamento no final da aula indica uma ótima prática, uma prática que atingiu seu objetivo e que estamos em Pratyahara (o desapego da mente em relação aos sentidos, que então fica livre dos estímulos que os sentidos provocam e pode se voltar para dentro, se olhar no espelho límpido do auto-conhecimento).

Obs: A Wiskas ainda não patrocina este Blog.

Pegada


Depois de muita cãibra nos dedos dos pés, e muita fáscia plantar dando sinal de re-equilíbrio, resolvi colocar aqui um trecho de um livro do Michel Odoul, "Diga-me onde dói e eu te direi porquê: os gritos do corpo são as mensagens das emoções", que explica o sentido de sentirmos dores e nos machucarmos ou criarmos doenças cronicas em determinadas partes do corpo fundamentado na sabedoria da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que enxerga o individuo como um todo formado por cinco elementos (fogo, madeira, metal, água e terra, que possuem um ciclo de degradação - onde um elemento destrói o outro, e um ciclo de criação, onde um elemento nutre o outro)

Quando falta a escuta acurada e atenta da propriocepção, e da intuição, que é a propriocepção estabelecida, cultivada e coordenada no corpo-emoção-mente, resta ao corpo disparar o sinal amarelo (pequenos traumas e 'doencinhas') e depois o vermelho ( grandes traumas, doenças graves e/ou cronicas). Seguem os trechos do livro:

'O pé

É o nosso ponto de apoio sobre o solo, a parte na qual nosso todo o nosso corpo repousa e confia quando se trata de mudanças, de movimentos. É ele que nos permite “crescer”, e, por conseguinte, avançar, mas pode também bloquear nosso suportes, e por conseguinte manter firmemente as nossas posições. Logo, o pé representa o mundo das posições, a extremidade manifestada da nossa relação com o mundo exterior. Ele simboliza as nossas atitudes, as nossas posições declaradas e reconhecidas, o nosso papel oficial. Não devemos colocar o pé na porta para bloqueá-la. Ele representa os nossos critérios quanto à vida, até mesmo nossos ideais. Trata-se da chave simbólica dos nossos suportes “relacionais”, o que explica a importância do ritual de lavagem dos pés em todas as tradições. Tal coisa purificava nossa relação com o mundo, até mesmo com o divino. Enfim, é um símbolo de liberdade, pois possibilita o movimento, Aliás, não é por acaso que os pés das meninas eram enfaixados na China. Sob o pretexto de uma significação erótica e estética, na verdade isso permitia que a mulher ficasse fechada, aprisionada num mundo relacional de dependência diante do homem, limitando seu potencial de mobilidade. Aliás, o mesmo fenômeno existe nas nossas sociedades ocidentais em que as mulheres “deviam’ usar salto agulha para corresponder a um determinado esquema. Como que por acaso, foi possível constatar que a altura dos saltos dos sapatos diminuía proporcionalmente à “liberdade” sucessiva das mulheres. Hoje em dia, mais e mais mulheres, sobretudo as gerações mais jovens, só usam salto baixo. (...)

Os dedos dos pés

Representam as terminações “finas” desses pontos de apoio. Eles são os “detalhes”, o “acabamento” desses pontos e, assim, as terminações das nossas posições, os detalhes das nossas crenças ou as pontuações das nossas atitudes relacionais. Cada dedo representa, por sua vez, um detalhe particular, um modo ou uma fase específica que decodificamos graças ao meridiano energético que termina ou começa no dedo em questão. Enquanto elemento periférico e de acabamento da relação, ele permite que o indivíduo se sirva dele como se fosse um meio de feedback, de retroação. Graças a cada um dos pés e aos pontos energéticos que se encontram nas extremidades deles, o indivíduo pode estimular ou eliminar, consciente ou inconsciente, porém eficazmente, as tensões eventuais que ali se encontrem. Assim sendo, os dedos dos pés são, como os das mãos, ao mesmo tempo os lugares e os meios que favorecem múltiplos pequenos atos “falhos” cotidianos, que nos parecem ocasionais e sem significação. Porém, na realidade, nunca é por acaso que queimamos, esmagamos ou torcemos tal ou qual dedo do pé. Trata-se de um processo “leve”, porém claro, de uma busca de expressão e/ ou eliminação de uma tensão relacional. Esse processo pode existir porque o ponto energético que se encontra na extremidade de cada um dos dedos dos pés se chama “ponto fonte” ou “ponto da Primavera”, é o ponto do renascimento potencial da energia, graças à qual uma nova dinâmica pode aparecer ou através da qual a antiga pode se “recarregar” e mudar de polaridade.

Os males dos dedos dos pés

Vou fazer aqui uma simples representação da significação global de cada um dos dedos dos pés e dos sofrimentos que vão ser expressos. Para compreender mais detalhadamente toda a dinâmica que está por trás disso, basta se referir, nesta obra, à parte que diz respeito ao meridiano energético exato que atinge o dedo em questão e ao qual ele imprime sua dinâmica geral. Se a tensão se manifestar num dedo do pé direito, estará relacionada à simbólica Yin (materna); num dedo do pé esquerdo, à simbólica Yang (paterna).

O dedo grande do pé (o “polegar” do pé)

É o único dedo do pé em que começam dois meridianos energéticos: o do Baço e Pâncreas e o do Fígado. É o dedo de base de nosso suporte relacional, do que nós somos. É isso que, durante a menopausa (perda da fecundidade, logo, do valor feminino) frequentemente testemunhamos o desenvolvimento de uma deformação desse dedo do pé que se chama Hallus valgus. Os traumatismos ou as tensões nesses dedos significam que sentimos uma tensão equivalente na nossa relação com o mundo, seja no plano material (parte interna do pé) ou no plano afetivo (parte externa do pé).

O segundo dedo do pé (o “indicador” do pé)

É o dedo em que se encontra o meridiano do Estômago, ou seja, aquele que gera a nossa relação com a matéria, a nossa digestão dessa matéria. As bolhas, os joanetes, males ou traumatismos nesse dedo vão nos falar da nossa dificuldade para gerara certas situações materiais ou profissionais.

O terceiro dedo do pé (o dedo “médio” do pé)

Não há meridiano orgânico nesse dedo do pé mas ele tem uma certa relação “indireta” com o Triplo Aquecedor. Logo, é o dedo do pé central, aquele do equilíbrio e da coerência das nossas atitudes relacionais. Os males desse dedo significam então que temos dificuldade para equilibrar as nossas relações, especialmente no que diz respeito ao futuro. O medo de seguir adiante, e de uma forma justa, pode ser expresso por esse dedo.

O quarto dedo do pé (o “anular” do pé)

É o dedo do pé em que se encontra o meridiano da Vesícula Biliar. Ele representa os detalhes das nossas relações com o mundo, no sentido do justo e do injusto, da busca pela perfeição. A presença de tensões, cãibras ou sofrimentos nesse dedo significa que vivemos uma situação relacional difícil quanto ao que é justo ou injusto. Trata-se de uma relação que não nos satisfaz no que diz respeito às condições e à qualidade dessas condições.

O dedo pequeno do pé (o dedo “minimo” do pé)

O dedo pequeno do pé é o dedo no qual termina o meridiano da Bexiga. É o meridiano da eliminação dos líquidos orgânicos e das “memórias antigas”. Quando batemos com esse dedo, o que é extremamente doloroso, procuramos eliminar memórias antigas ou esquemas relacionais antigos. Provavelmente estamos tentando mudar hábitos antigos, modos de relação com o mundo e com o outro que não nos satisfazem mais. Através do traumatismo e do sofrimento (corpo, ferida, entorse, etc.), estimulamos nossas energias para facilitar essa eliminação dos modos antigos a fim de substituí-los por outros.’

textos pescados das páginas 123 até 127.

20100708

Ora ação

MORTAL LOUCURA
Gregório Matos + Caetano Veloso + José Miguel Wisnik
2005

Na oração, que desaterra … a terra,
Quer Deus que a quem está o cuidado … dado,
Pregue que a vida é emprestado … estado,
Mistérios mil que desenterra … enterra.

Quem não cuida de si, que é terra, … erra,
Que o alto Rei, por afamado … amado,
É quem lhe assiste ao desvelado … lado,
Da morte ao ar não desaferra, … aferra.

Quem do mundo a mortal loucura … cura,
A vontade de Deus sagrada … agrada
Firmar-lhe a vida em atadura … dura.

O voz zelosa, que dobrada … brada,
Já sei que a flor da formosura, … usura,
Será no fim dessa jornada … nada.



Chidananda Rupa Shivoham Shivoham