20100309

Cri(s)e dos 7 anos: Klauss, Laban, Bartenieff & cia. no Hatha Yoga


Quem freqüenta as aulas comigo sabe o quanto eu valorizo a objetividade que a abordagem do Hatha Yoga pelo método Iyengar proporciona. Porém, existem outros métodos de estudo e análise do movimento que, se usados em acordo, transforma a precisão da navalha de aço do método Iyengar em exatidão de lâmina de obsidiana.

O iniciar na prática de Hatha Yoga pelo método Iyengar pode ser mais ou menos complicado (e quem complica, não explica. Quem não explica, afinal, sabe mesmo ou é decorado?), dependendo da abordagem (mais ou menos 'esotérica', ou hermética) que o professor escolha adotar, falando em anatomês do Iyengar, sem explicar para os novatos o que é o que. Claro, a calourada fica boiando, sem poder fazer do jeito correto, sem poder aprender de cara por inteiro. Nesta hora, conhecer a Técnica de Klauss Vianna ajuda a descomplicar o jeito de expor e descrever o movimento: Klauss ensina a falar do corpo em camadas profundas com todo tipo de gente, gente com qualquer nível de erudição, ajuda a despertar nas pessoas o interesse pelo que ocorre em seus corpos sob a pele, além do que a vista 'normal' alcança.

Praticar Hatha Yoga pelo método Iyengar requer um refinar sensório, e pode ser outro obstáculo ao aprendizado e, portanto, à associação de mais pessoas ao grupo. O conhecimento da Análise Laban em Movimento, do Sistema Laban-Bartenieff e de Bartenieff Fundamentals (salve, salve Fitz-Simon!) pode ajudar a dar conta de fornecer um repertório fundamentado na perscrutação de percepções bastante eficaz e uma excelente ferramenta de apoio ao método Iyengar. Laban e Bartenieff também auxiliam no momento de organizar as ações externas e internas que constroem a entrada, permanência e saída do āsana, bem como na eficácia do seqüênciamento das ações externas e internas das correções adequadas para cada pessoa.

Além disso, Bartenieff Fundamentals facilita a respiração durante o movimento, ajuda a manter a estabilidade pélvica (sem apertar a bunda, ooops, o glúteo, socar o púbis em qualquer direção desconexa e espremer a banda sacra) e a relação entre cintura pélvica e escapular que é fundamental na feitura dos āsanas e a conecção viva entre a parte superior e inferior do corpo e liberação da coluna do fardo (peso mesmo, carga) imposto pelo uso inadequado e descoordenado de braços e pernas.

20100307



Tsk,
dessa vez, ainda não consegui fazer o vídeo caber no Blog, como fiz das outras vezes.
Clique aqui no link do vídeo para ver inteiro, aberto e legendado.

20100302

Yoga ≠ Psico(análise ou terapia)


Tratamento psicoterápico é o que procura sanear (tornar sã) a mente, fundamentando-se na tese de que as condições de desequilíbrio, desarmonia, impureza e inquietude mentais são responsáveis pelos transtornos físicos. É tratamento comprovadamente eficaz. Sua eficácia demonstra a solidez da tese.

As escolas de psicologia do inconsciente, principalmente a psicanálise e a auto-análise, têm sido as que melhor atendem aos fins psicoterápicos. Têm sido as mais utilizadas pelos especialistas de todo o mundo.

Segundo elas, somos o que somos, fazemos o que fazemos, reagimos como reagimos, sofremos ou gozamos, temos nossas crises e nossos remansos e até mesmo pensamos e cremos, não de acordo com o nível conhecido da mente, mas sim movidos, manobrados e determinados pelas camadas mais profundas, das quais não temos conhecimento claro. Sendo a mente comparada a um iceberg, a parte aflorada, isto é, a mente consciente, é mínima e relativamente incapaz, enquanto a parte submersa, o inconsciente, tem poder incomparavelmente maior. A psicoterapia pela psicanálise e pela auto-análise - tão eficientes -, em linhas gerais, consiste em tornar conhecidos (passar para o consciente ou fazer aflorar) os conteúdos e condições inconscientes e profundos. Tais conteúdos e condições resultam de esquecidas experiências traumatizantes (predominantemente da infância), que, por sua natureza maléfica e poderosa, se expressam através do anômalo comportamento dos nervos e das glândulas endócrinas. Dizem os psiquiatras que a doença é a ‘somatização’ dos conflitos e traumas escondidos, isto é, sua expressão orgânica.

Feita uma faxina do inconsciente, isto é, expulsos de lá os conteúdos reconhecidos como deletérios, já tendo esses perdido o anterior poder perturbador, concretiza-se a cura ou libertação do neurótico. Esse processo de limpeza, vale dizer de desmascaramento do adversário escondido, de alívio de carga, de conscientização do ignoto, de extravasão, de elucidação e de catarse, muda a mente e, em conseqüência, rearmoniza, corrige e normaliza os mecanismos auto-reguladores do organismo, daí imediatamente redimirem-se os sintomas. Assim, o neurótico se redime do inferno em que vivia. Diz-se, também, que se corrige a desconfortante ‘linguagem visceral’.Em outras palavras, desfaz-se a ‘somatização’.

Quem estuda o Yoga em seus veneráveis textos originais surpreende, em seu aspecto psicológico, atualidade, riqueza e sutileza tão profundas que, não fora a linguagem velada, exótica e simbólica, pareceria obra dos mais refinados e modernos entendidos nos aspectos inconscientes da alma humana. Não tenho receio de concordar com autoridades no assunto e também afirmar que o Yoga é o ancestral comum de todas as modernas escolas de psicologia profunda.

Segundo a psicanalista francesa Maryse Choisy, o próprio Freud fundou a psicanálise em princípios yogiks, que lhe teriam chegado através de Arthur Schopenhauer, o filósofo ocidental que mais se inspirou nos clássicos do hinduísmo.

Não é diferente a opinião de Carl Gustav Jung, fundador de um dos mais importantes ramos da psicanálise, que diz: ‘A própria psicanálise, bem como as diretrizes de pensamento às quais deu origem e que são, na verdade, um desenvolvimento ocidental, são uma tentativa de principiantes, comparados com o que, no Oriente, constitui uma arte imortal’.

M. Bachelard considera o Yoga a "psicologia da verticalidade".

Realmente. Se a psicanálise, num mergulho, atinge o inconsciente e daí não passa, o Yoga, mediante uma experiência transcendente, chamada samadhi, fim e essência do processo yogik, diviniza o homem no deslumbramento superconsciente.

O objetivo do processo psicanalítico é a cura de um enfermo. O do Yoga é a redenção humana ou libertação (moksha) da alma individual (jiva).

A psicanálise tem por objeto de estudo a mente enferma. O Yoga estuda e considera o homem integral, isto é, o homem potencialidade do Divino, germe e promessa da Alma Universal, expressão do Absoluto em via de aperfeiçoamento e atualização.

Para o psicanalista ortodoxo, o inconsciente é um depósito de experiências dolorosas, um porão de escória reprimida pela convivência com a sociedade que não a aceita. O Yoga considera o inconsciente apenas uma zona da mente onde o consciente não chega, não sendo fatalmente de má qualidade, formado exclusivamente de negatividades recalcadas. O inconsciente tem, em si, também luzes, tendências, impressões, energias boas, potencialidade infinita e qualidades divinas.

Sendo uma psicologia do inconsciente, o Yoga explica a vida consciente, em parte, como conseqüência do inconsciente. Todas as nossas experiências, fatal e fielmente, são gravadas numa espécie de "fita de gravação", através de ininterrupta introjeção. O que introjetamos ou gravamos nos plásticos abismos do inconsciente são: vasanas (tendências, inclinações, impulsos, motivações...) e samskaras (impressões, representações, imagens, juízos...). Lá do fundo, esse conteúdo comanda o nosso comportamento dito voluntário e consciente; comanda o que somos, queremos, sentimos, dizemos, fazemos e pensamos.

Conforme as introjeções que fazemos no curso da vida, tal será nosso destino. Quem introjeta espinho, conseqüentemente será espetado. Essas noções de vasanas e samskaras dão uma explicação psicanalítica à conhecida Lei do Karma.

Assim esclarecidos, deveríamos, por interesse profilático, selecionar as impressões e tendências que introjetamos, com o mesmo critério com que um dietista escolheria sua refeição num cardápio, visando a que, nos dias de porvir, possam elas (as escolhidas) operar em proveito da saúde e não contra ela; em direção à liberdade e não à servidão; em prol de nossa felicidade e não em seu prejuízo.

A indiscriminada, inconsciente e indisciplinada introjeção de vasanas e samskaras polui, adoece, corrompe, perturba, vicia e infelicita a mente. O yogin, sabendo disso, procura acautelar-se. Evita fisicamente as que pode e, mentalmente, aquelas que, fisicamente, lhe são impostas pelo ambiente.

Seu cuidado não é apenas na área da higiene mental, mas também na fase da cura.

Nesse particular, em que consiste a cura?

Em depurar, liberar, aclarar e aprimorar o mental. O Ashtanga Yoga ou Yoga dos oito componentes, codificado pelo sábio Patañjali, é uma forma técnica de sanear a mente, não a mente que costumamos chamar de doente, mas a mente que costumamos chamar de normal e que, em verdade, é "normalmente" incapaz para a felicidade e para o alcance da Verdade.
Agitada como é, tecida de conflitivos desejos, encabrestada pelo egoísmo, sacudida de paixão, obcecada pelo irreal e condicionada a fatores múltiplos, o que chamamos de mente normal não deixa de ser, inclusive, um obstáculo para a percepção da Verdade. Essa só é possível quando a mente impura cessa de manifestar-se, isto é, quando emudecem seus vrittis (manifestações, fenômenos, movimentos, vacilações...). Levada a mente à plena quietude, ocorre a comunhão com o Infinito; dá-se o samadhi. Tal é o objetivo da ascese de Patañjali. Tal foi o caminho seguido e ensinado por S. João da Cruz.

As imperfeições mentais, que o método visa a remover, são:

  • mala, isto é, impureza, luxúria, ódio, cobiça...


  • vikshepa, ou seja, o estado de vacilação, agitação, insegurança, volubilidade...;


  • avarana, o véu de ignorância, que lhe dá miopia espiritual e limita o alcance e a percepção.



  • O yogin aprende com Patañjali como purificar, aquietar e iluminar sua mente.

    Segundo essa escola de Yoga, a cura mental liberta o homem das condições normais e enfermiças de sua personalidade, que são:

  • asmita (egoísmo);


  • raga (concupiscência ou apego);


  • dvesha (aversão);


  • abhinivesha (medo de morrer).



  • Tais defeitos de personalidade podem ser simultaneamente efeitos e causas das imperfeições do psiquismo.

    A psicoterapia comum visa a restituir à mente enferma e sofredora as condições caracterizadas como normais. O Yoga ajuda a atingir tais resultados, mas vai mais além. Seu objetivo final é dar à mente: pureza (suddha), transcendência (buddhi) e redenção total (mukti).

    Uma forma bem interessante de entender a ação yogaterápica no tratamento do nervoso já foi exposta páginas antes, quando expusemos a teoria dos gunas. Ali mostramos que a prática do Yoga, numa ação neuroanaléptica, levanta as forças do abatido ou astênico. Em termos de gunas, poderia ser dito que à mente tamásica a prática do Yoga acrescente rajas. Ao agitado indivíduo de mente rajásica, o Yoga sativiza, isto é, dá-lhe o equilíbrio, a harmonia e a serenidade sattwa.

    Até aqui estávamos vendo o Yoga como uma forma de psicanálise. No entanto, chegou o ponto em que vamos concluir que é exatamente a antítese da psicanálise, isto é, uma psicossíntese.

    Psicanálise, ao pé da letra, quer dizer análise, divisão, separação do todo em partes, da alma (psique). O Yoga, em sua conceituação essencial e ao mesmo tempo etimológica, é exatamente a antítese disso. Yoga vem da raiz sânscrita yuj, que quer dizer juntar, unir, reunir, unificar... Yoga une. Análise separa. Como doutrina e técnica psicológica, seria literalmente uma psicossíntese.

    Unificar a alma despedaçada é Yoga. Dar unidade e coerência à mente onde reina conflito é Yoga. É Yoga harmonizar os antagonismos psíquicos. É Yoga dar coerência à vida mental. Se a mente está doente, é porque vive como ?uma casa dividida contra si mesma?. Yogaterapia consiste em restaurar a paz interna. Se, em seu estado comum, a mente é fraca, é porque a dispersão a domina, dispersão que a esparrama estagnada como pântano ou a exaure em fluir multidirecional. O Yoga atua no sentido de dar-lhe a concentração necessária, conseqüentemente gerando poder, segurança, penetração, eqüanimidade, coerência, harmonia e bem-estar. Como psicossíntese, o Yoga reduz a fluidez e a dispersão.

    Em resumo, o Yoga é uma psicoterapia porque socorre o neurótico e o livra dos sofrimentos desde que:

  • harmoniza conflitos;


  • limpa o inconsciente de vásanás e samskáras nocivos, substituindo-os, através de introjeções - positivas, condizentes com a libertação e a realização espiritual;


  • unifica a vida mental, mediante harmonizar os vários níveis e as expressões da personalidade;


  • acrescente sattwa à mente rajásica, e rajas, à tamásica, isto é, dá sabedoria e tranqüilidade ao excitado e ânimo ao astênico; 


  • orienta a mente para os rumos do Divino; 


  • reduz o egoísmo, a concupiscência, o apego e o medo;


  • liberta de velhos e dominantes condicionamentos.



  • O prof. Oskar R. Schlag foi um dos discípulos diretos de Freud, condiscípulo do grande Jung e amigo de E. Fromm. Com ele mantive amigável palestra, lastimavelmente curta demais. Ensina Yoga na Universidade de Zurich (Institut fuer Angewandte Psychologie). Para ele, o Yoga é muito mais do que a psicanálise como caminho redentor. Em conferência, em 1952, opinava: "Yoga é algo essencialmente prático para chegar-se a um fim (objetivo). Que fim é esse? A libertação. Libertação de quê? A libertação de uma situação que Freud denominou ?o encargo incômodo da nossa civilização?... Você mesmo é a fonte de todo o incômodo da nossa civilização. Dentro de você se encontra tudo aquilo contra o quê você protesta e do qual deseja se libertar".

    Aos estudiosos de Yoga como psicoterapia e em especial aos psicanalistas, indico principalmente dois livros: Western Psychoterapy and Hindu-sádhana, de Jacobs, Hans (George Allen & Unwin Ltd., Londres) e Yogas et Psychanalyse, da eminente psicanalista católica Maryse Choisy (Collection Action et Pensée aux Éditions du Mont-Blanc; Genève, Suíça). Para esta, "o Raja Yoga é o mais admirável tratado dos fatos interiores que o homem concebeu".

    José Hermógenes, no livro ‘Yoga para Nervosos’ , pags. 94 até 99.

    20100301

    Holi



    O festival de Holi sinaliza a mudança de época que marca o advento da primavera.
    É uma ocasião para esquecer todas as diferenças de casta e credo e compartilhar sentimentos de amor mútuo e boa vontade. As pessoas celebram Holi colorindo os outros com as cores de sua escolha, e assim superar as diferenças de seus corações e tornar-se mais próximo do outro.

    Há varias maneiras de comemorar o Holi : jogando água ou pó colorido uns nos outros, dançando músicas tradicionais do festival de Holi, com batidas rítmicas do tambor e procissões freéticas. Outra marca de Holi é distribuir diversos tipos de doces são feitos entre amigos e familiares. Basicamente Holi é o único festival onde as pessoas podem escapar das rígidas convenções sociais de um sistema de castas, brincar uns com os outros, e comer e divertir-se com a manutenção do amor e respeito. Holi trás a alegria e juventude de volta.

    Holi é um antigo festival da Índia e era originalmente conhecida como ' Holika’. Sua origem está ligada com a história de Prahlada, o filho do malvado rei Hiranyakashyap. Prahlad era um devoto do Senhor Vishnu, enquanto seu pai odiava Vishnu. O rei Hiranyakashyap obriga a todos a adorar seu ídolo, ignorando Vishnu, e quem fosse contra suas ordens seria morto. Ele se esforçou para matar seu filho Prahlad , mas toda vez Vishnu salvou. Depois de várias tentativas mal sicedidas de matar o filho Prahlad, Hiranyakashyap foi até sua irmã Holika, que tinha opoder de permanecer incólume dentro do fogo, e pediu a ela para segurar Prahlad e sentar-se no fogo. Ela consentiu o pedido de seu irmão. No entanto, foi Holika que acabou queimada e transformada em cinzas, enquanto Prahlad escapou inteiro do fogo. Desse momento em diante Holi é comemorado como a festa da vitória do bem sobre o mal.

    As cores falsas deste mundo transitório cobrem todos os sentidos, o corpo e a mente. Com o passar do tempo, elas desbotam ou se tornam desinteressantes. Mas mesmo a menor cor da iluminação, infunde um esclarecimento para sempre. Mesmo a morte não é possível removê-lo. É esta a cor da devoção e da iluminação que devemos incutir em nossa vida, por ocasião do Holi. Holi é um festival de cores. É um elixir que rejuvenesce o empenho e anseios de um aspirante. Ele também se espalha a mensagem do amor mútuo na sociedade.

    A pilha de madeira queimada na véspera de Holi é um símbolo da fraqueza e das paixões que dominam nossas mentes e a luz da fogueira um farol que nos guia na direção das virtudes que desejamos cultivar.

    O significado literal de Holi é 'coisa do passado' (bygone) (ho li). Isso significa que o festival de Holi ensina-nos a esquecer o passado. Seja qual for que aconteceu é passado. Esqueça. Se você guarda elogios, tudo bem, se você guarda ofensas, tudo bem, está tudo acabado agora. Mergulhe no contentamento.

    O festival de Holi sugere que também nós devemos enfrentar os obstáculos vindo em nossa direção com coragem, determinação, confiança, foco e serenidade.

    Holi é tido como um dos festivais mais piedosos que caracterizam a cultura indiana. Ele nos oferece uma excelente oportunidade para esquecer as diferenças ilusória de superioridade e inferioridade, meu e seu. É uma ocasião para abandonar os vícios e características ruins, e despertar nossa consciência/pessoa verdadeira, de sentir e perceber a bem-aventurança e a verdadeira felicidade que brotam da espontaneidade, simplicidade e da não centralização no ego.