20091014

aulas de yoga para cadeirantes


Yoga: uma prática compassiva
Estúdio em Cena oferece aulas de yoga para cadeirantes

Por Kelly Juste,
fotos Rapha Bathe
Com a intenção de democratizar o seu espaço, a Estúdio em Cena também oferece aulas de yoga para cadeirantes – pessoas que usam cadeiras de rodas. O objetivo é mostrar que estar em uma cadeira de rodas não é motivo para pensar na impossibilidade de levar uma vida normal. É verdade que os primeiros momentos de adaptação não são dos mais simples, e que as barreiras arquitetônicas emperram um pouco o processo. De qualquer forma, é necessário ter a convicção de que existem sim formas de seguir adiante. E tudo fica mais fácil na medida em que a inclusão passa a orientar todos os setores da sociedade.

A dinâmica de uma aula de yoga para cadeirante é a mesma. Aliás, de acordo com a professora de Hatha Yoga, Maria Fernanda Senger, é fundamental não fazer uma distinção entre os alunos. “As minhas turmas são mistas. E é dessa forma que tanto os andantes, como os cadeirantes, podem aprender um do outro. Fica mais fácil para cada um deles entender melhor os movimentos”.

Existem duas maneiras principais de conduzir a aula. Uma delas é com o cadeirante deitado no chão. Nessa posição ele passa a imitar os gestos das posturas que o professor está fazendo em pé. A outra forma é utilizando a própria cadeira de rodas, mas ele deve estar preso a um cinto para não haver o risco de cair. Dos dois modos é importante, quando necessário, que o cadeirante conte com o auxílio de um acompanhante, o que o ajudará a executar todas as posturas. “O cadeirante pode ser movido por um colega, mas eu estou sempre supervisionando. É fundamental que o professor esteja muito atento a tudo que o aluno esteja fazendo e sentindo”, orienta MaFê, como é conhecida a professora.


Apesar de muitos professores criticarem o uso de acessórios, como cintos, blocos, cadeiras, cobertores e bancos, eles acabam sendo fundamentais. Para os cadeirantes, essa é uma maneira dele ganhar mais confiança na hora de fazer as posturas. “Em uma postura como o Virabhadrāsana, por exemplo, o aluno precisa se deslocar para a ponta da sua cadeira de rodas. E para não existir o risco dele cair, é colocado um cinto para segurá-lo. Assim, ele consegue flexionar o joelho da perna da frente e deixar a detrás estendida”, exemplifica MaFê. E o mesmo se aplica aos andantes, já que os limites de cada um varia. “Utilizar acessórios é uma maneira de democratizar o yoga. É sinal de inteligência e não de preguiça ou falta de capacidade. É sinal de que você quer aproveitar o melhor de cada postura”, completa.

E como o yoga é uma prática democrática, os benefícios que ele proporciona são praticamente os mesmos que os disponibilizados a todos. Por isso, andantes e cadeirantes observam uma diminuição das tensões do corpo, dos distúrbios do humor, como depressão e ansiedade, e com a constância chegam a sentir o benefício de uma mente pacificada, o que significa menos pensamentos por unidade de tempo.

Também vale destacar que a aula em grupo contribui para a socialização e a alteridade do cadeirante. Além disso, o yoga lhe oferece um repertório de movimentos novos, o que auxilia a prevenir a formação de coágulos sanguíneos, e os machucados na pele, pelo fato de parte do seu corpo estar ‘sempre’ na mesma posição. O movimento pode permitir o equilíbrio do tônus muscular, diminuindo a espasticidade - aumento do tônus muscular, no momento da contração, causado por uma condição neurológica anormal. Os músculos espásticos são mais resistentes à contração do que os músculos normais e também custam mais a se relaxar, permanecendo contraídos por um período de tempo mais longo do que os músculos normais.

Ao colocar em movimento as partes do seu corpo que estão paralisadas, o cadeirante começa a trabalhar de forma mais eficiente o seu organismo, mas essa percepção depende muito de sua sensibilidade. “Um corpo parado engessa a matriz nutricional que existe entre as células e por isso o metabolismo não consegue eliminar o ‘lixo’ produzido pelo nosso corpo, nem absorver os nutrientes. Quando você movimenta o seu corpo, a matriz entre as células amolece, o que permite que essas trocas sejam feitas. É isso que leva saúde para o nosso organismo, a partir do nível da célula”, detalha MaFê.

Na medida em que o cadeirante inclui a prática do yoga em sua rotina, ele passa a ter uma percepção mais refinada de si mesmo e da relação com o mundo ao seu redor. Cada pessoa, e isso não se restringe aos cadeirantes, tem um tempo para organizar a sua propriocepção. É uma tarefa delicada, que exige paciência. “Vão existir aulas boas e ruins, porque é um processo, no qual você precisa de um tempo para entender a organização interna do seu corpo. Você não vai à aula para julgar, ser julgado, nem copiar, nem fazer nada alucinadamente. Precisa primeiro sentir, entender, prestar atenção, antes de fazer”, finaliza Maria Fernanda.


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2 comentários:

  1. Dia, João!

    Obrigada! Mas o mérito é da adaptabilidade do Hatha Yoga.
    ;)

    Bonito mesmo é a quantidade de benefício que o (Hatha) Yoga traz para quem pratica com afinco
    :D

    AbraçOMs

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